Há algumas semanas, escrevia uma crônica “Os buracos estão mais em cima” que foi publicada neste blog. Quem se deu ao trabalho de ler, pode agora ver que o que eu chamava atenção era como um prenúncio do que estava por vir. Infelizmente. Quisera eu que fossem apenas palavras e que jamais houvesse algo de real a vir acontecer daquilo que previra a pequena crônica.
Chamava a atenção para as pessoas que tomam decisão nos municípios acerca da questão pedestres x automobilistas. Focava no âmbito da civilização dos automóveis, o quanto os valores básicos de respeito à vida são esquecidos e o quanto são supervalorizados os espaços destinados ao trânsito de automóveis.
Apelava naquele artigo para que as pessoas que estão em postos que podem influenciar no sentido de mudar esta lógica perversa e anti-cidadã, interviessem através do poder que têm, fazendo valer uma lei que se torna letra morta (a Lei do Trânsito). Pedia que se colocassem (os administradores das cidades) nos lugares comuns da cidadania que anda a pé, ensaiassem (eles ou elas) sair um pouco por aí tentando trafegar pelas nossas calçadas (nossas e não dos automóveis).
Será que algum administrador público leu o que escrevi? Ou pelo menos algum possuidor de automóvel? Recebi alguns valorosos comentários vindos de alguns conhecidos, infelizmente suspeitos, pois são amigos ou amigas e também (como eu) são comuns pedestres...
Ontem, porém, vi pasmo, acontecer na prática, o que anunciara há poucas semanas na crônica. A comprovação de que os buracos estão mais em cima. Aquele “dono de carro” que atropelou uns tantos ciclistas de forma maldosa simplesmente por que estes estavam obstruindo a passagem de um veículo. Isto aconteceu em Porto alegre. Justamente com cidadãos que protestavam contra falta de espaço para circular de bicicleta. Vocês atentaram para esta notícia?
Agora eu pergunto: Onde estão os buracos? Será que eles que estão nas consciências dos administradores públicos? Na prepotência de quem se sente “dono do mundo” por guiar um carro? Ou será que os buracos estão no modelo de desenvolvimento onde fabricar carros e asfaltar ruas engordam os números do PIB?
Por acaso alguém tem a estatística de quantas pessoas comuns (ciclistas ou pedestres) morrem no Brasil por atropelamento?
Sinceramente... custear tratamento de acidentados também aumenta o PIB... Mas quantos reais adentram ao PIB o fato de alguém passear pela sua rua a pé ou de bicicleta? Quanto reais vão para o PIB o fato de um trabalhador ou um estudante de deslocar de bicicleta ou a pé? Alguém já fez esta conta?Abraço e vamos fazer passeios em toda parte!
Paulo Maciel