Os acidentes recentes envolvendo jet skis nos chamam a atenção para o que vem acontecendo em Iguatu CE. A Barragem do Trussu vem sendo invadida por lanchas, barcos e jet skis, tudo em nome do lazer de poucos. Diga-se de passagem, que crimes ambientais já vêm sendo cometidos frequentemente nesta barragem a exemplo da poluição das águas por óleos lubrificantes e combustíveis, além da poluição sonora promovida pelo ronco ampliado dos motores destes veículos que afugenta a vida silvestre que se abriga e se reproduz na barragem, tratando-se, portanto, de um cenário importante para a vida silvestre.
Além das premissas ambietais, do ponto de vista das finalidades com que foi construída a barragem, a mais importante delas foi garantir o abastecimento hídrico para a cidade bem como para a agricultura em terras localizadas à montante e à jusante. A agricultura ainda tem usado muito pouco tal recurso, mas a cidade de Iguatu depende hoje inteiramente da água armazenada no Trussu para abastecimento humano.
Temos que levar em conta que nossa região, estando dentro do semi-árido cearense, isto per si já é um motivo mais que suficiente para redobrarmos nossos cuidados com a água que é captada e armazenada através da construção de barragens que são obras públicas construídas com recursos dos contribuintes. Não contamos com outra fonte de água superficial viável na região nem temos aquíferos subterrâneos. Sendo assim a barragem deveria ser cuidada como um tesouro precioso, não somente para a atual geração, mas principalmente como reserva estratégica para os próximos 100 anos.
O uso do espelho d’água da barragem também vem crescendo através da piscicultura, o que é um aspecto positivo e necessário que aumenta a oferta de alimentos, mas esta atividade deve respeitar critérios presentes nos processos de licenciamento ambiental requeridos para atividades impactantes ao ambiente natural e também normas sanitárias e alimentares. Assim sendo, o uso da barragem pela piscicultura deve seguir critérios definidos nas leis ambientais e também nas portarias e normas pertinentes à saúde alimentar. A produção de alimentos utilizando-se as águas do trussu deve ser criteriosa pois pesquisas apontam que principalmente os peixes acumulam ao longo de suas vidas metais pesados presentes no meio hídrico os quais são prejudiciais à saúde humana. Para quem não sabe, nos combustíveis estão presentes metais pesados como o chumbo além de outros poluentes perigosos à saúde humana.
E o que dizer da atividade de lazer? A permanecer o conceito predatório de lazer vigente na cultura consumista atual, vamos de mal a pior. A visão dominante e que parece estar presentes na mente da maioria dos frequentadores está eivada de um individualismo onde prevalece saciar o desejo imediatista de um lazer sem preocupação com a sustentabilidade ambiental da barragem e nem mesmo com a manutenção da qualidade da água como recurso consumido diariamente por toda a população.
Margens e ilhotas vêm sendo ocupadas e degradadas pelos que têm poder aquisitivo para construir nas ilhas e margens sem obedecer a nenhum critério de zoneamento ambiental e também por frequentadores de finais de semana que levam para a barragem todo o tipo de poluição além dos veículos aquáticos que promovem a poluição das águas, arriscam vidas de transeuntes e usuários e também promovem a poluição sonora.
A propósito, há muito tempo reivindico a elaboração de um Plano Diretor da Barragem Trussu que regulamente o uso desta e garanta o controle e gestão participativa da mesma, inibindo com isso as ocupações irregulares de um patrimônio público situado em uma Área de Proteção Ambiental por força da Lei Ambiental.
A elaboração do referido Plano Diretor, por sua vez, não se trata de um simples processo birô. Ao contrário, deverá ser resultado de um rico processo de discussões com toda a sociedade, dando-se importância ao processo educativo que isso envolve. Assim, todos os atores sociais que atuam de alguma forma no ambiente do Trussu deverão ser envolvidos bem como usuários urbanos e rurais. A visão de futuro também deve permear toda a discussão, levando em conta não somente os interesses em jogo da geração presente mas a obrigação da geração presente em garantir um recurso de qualidade para as gerações seguintes num horizonte de pelo menos 100 anos.
Bem, teria ainda muito o que falar mas creio que estamos apenas começando a conversa e no decorrer do debate continuaremos nossa conversa.
Paulo Maciel
paulomaciel69@hotmail.com