A questão das nossas terras já era para ter sido resolvida há décadas.
Mas todos os governos lavaram as mãos e foram deixando a situação se
agravar.
Conselho da Aty Guasu Kaiowá Guarani
Que bom que a senhora assumiu a presidência do Brasil. É a primeira
mãe que assume essa responsabilidade e poder. Mas nós Guarani Kaiowá
queremos lembrar que para nós a primeira mãe é a mãe terra, da qual
fazemos parte e que nos sustentou há milhares de anos. Presidenta
Dilma, roubaram nossa mãe. A maltrataram, sangraram suas veias,
rasgaram sua pele, quebraram seus ossos... rios, peixes, arvores,
animais e aves... Tudo foi sacrificado em nome do que chamam de
progresso. Para nós isso é destruição, é matança, é crueldade. Sem
nossa mãe terra sagrada, nós também estamos morrendo aos poucos. Por
isso estamos fazendo esse apelo no começo de seu governo. Devolvam
nossas condições de vida que são nossos tekohá, nossos terras
tradicionais. Não estamos pedindo nada demais, apenas os nossos
direitos que estão nas leis do Brasil e internacionais.
No final do ano passado nossa organização Aty Guasu recebeu um prêmio.
Um prêmio de reconhecimento de nossa luta. Agora, estamos repassando
esse prêmio para as comunidades do nosso povo. Esperamos que não seja
um prêmio de consolação, com o sabor amargo de uma cesta básica, sem a
qual hoje não conseguimos sobreviver. O Prêmio de Direitos Humanos
para nós significa uma força para continuarmos nossa luta,
especialmente na reconquista de nossas terras. Vamos carregar a
estatueta para todas as comunidades, para os acampamentos, para os
confinamentos, para os refúgios, para as retomadas... Vamos fazer dela
o símbolo de nossa luta e de nossos direitos.
Presidente Dilma, a questão das nossas terras já era para ter sido
resolvida há décadas. Mas todos os governos lavaram as mãos e foram
deixando a situação se agravar. Por último o ex-presidente Lula,
prometeu, se comprometeu, mas não resolveu. Reconheceu que ficou com
essa dívida para com nosso povo Guarani Kaiowá e passou a solução para
suas mãos. E nós não podemos mais esperar. Não nos deixe sofrer e
ficar chorando nossos mortos quase todos os dias. Não deixe que nossos
filhos continuem enchendo as cadeias ou se suicidem por falta de
esperança de futuro. Precisamos nossas terras para começar a resolver
a situação que é tão grave que a procuradora Deborah Duprat,
considerou que Dourados talvez seja a situação mais grave de uma
comunidade indígena no mundo.
Sem as nossas terras sagradas estamos condenados. Sem nossos tekohá, a
violência vai aumentar, vamos ficar ainda mais dependentes e fracos.
Será que a senhora como mãe e presidente quer que nosso povo vai
morrendo à míngua?. Acreditamos que não. Por isso, lhe dirigimos esse
apelo exigindo nosso direito.
Conselho da Aty Guasu Kaiowá Guarani
Dourados, 31 janeiro de 2011
Publicado em http://www.brasildefato.com.br/node/5574