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segunda-feira, 7 de março de 2011

8 DE MARÇO - MUITAS ROSAS E MARGARIDAS FLORESCEM

O dia 8 de março - Dia Internacional da Mulher - tem uma importância singular no sentido de afirmar uma sociedade aberta e sócio-biodiversa. A origem desse dia está na luta das mulheres por condições dignas de vida, trabalho e bem estar com respeito a natureza sem distinção de gênero. Ocorre que a opressão exercida sobre a mulher na sociedade de classes vem de uma afirmação milenar reafirmada por todas as formações sociais anteriores, desde o sistema escravocrata e feudal até o capitalismo atual. Por isso o valor emancipatório humano da luta pela igualdade de gênero, transcende as relações de produção material e vão além colocando matizes que apontam a própria relação gênero x natureza.
Não é diferente na sociedade brasileira, desde os primeiros momentos da colonização. Entretanto floresceram entre nós muitos exemplos de força e de luta.
Margarida Alves da Silva, de Alagoa Grande PB, foi uma mulher camponesa de muita fibra. Com certeza não foi a única que ousou ocupar um terreno que, de acordo com a ótica dominante não lhe pertencia, nem como gênero nem como classe social: mulher e camponesa pobre, mas poucas chegaram ao seu posto de liderança social rural que se tornou ícone de nossa gente.

A postura histórica do Estado brasileiro,  desde  sua origem, no tocante ao não enfrentamento da questão fundiária, abandonando a agricultura familiar à sua própria sorte, culminou com o agravamento dos conflitos das últimas décadas do século XX. Se o descaso propositado com a questão fundiária produzia chagas sociais profundas, imagine-se  o sofrimento daquelas pessoas responsáveis pela sobrevivência das gerações, as mães.

O êxodo rural realizado por milhares de famílias em busca de melhores condições de vida gerou movimentos migratórios dentro do país entre as diversas regiões, mas o êxodo dos nordestinos foi e continua sendo dos mais significativos pela  contundência dos sofrimentos sociais que acarreta. Nestes movimentos é desnecessário dizer o sofrimento particular de mães que ficavam nas terras exauridas e assumiam o papel de cuidar da prole, ou das mães que batiam em retirada da seca – e do modelo econômico excludente, conduzindo suas famílias como se o cordão umbilical não houvesse se partido, enquanto homens “ganhavam o mundo” em busca de recursos.  Concentração de terras e rendas nas mãos de poucos e exaustão dos recursos naturais  – forçando a fuga; o desemprego e favelizaçao das periferias urbanas, aliados a violência e marginalização urbana – desfazendo sonhos de alivio da sua penúria.  A agricultura priorizada pelas políticas do Estado brasileiro sempre foi, e continua sendo, agroexportadora – monocultura - que evoluiu ao agronegócio (masculino!) e que atende ao mercado global, em detrimento da agricultura familiar (feminina!) que alimenta a grande maioria da população brasileira.

Foi nesse contexto em que floresceu uma Margarida (Alves da Silva) especial. E como todas margaridas,  plenas de vida, foi ela que ofereceu sua própria vida para que sua memória perdurasse na luta por um mundo melhor. Margarida foi morta na porta de sua casa no dia 12 de agosto de 1983, na presença de sua mãe, seu marido e filho, com um tiro de espingarda no rosto.

Fica aqui nossa homenagem ao dia da mulher e também nosso estímulo à luta por relações de gênero socialmente justas, ecologicamente equilibradas e economicamente sustentáveis.
Meu abraço,
Paulo Maciel