As cidades de hoje dia privilegiam o automóvel em detrimento do cidadão. Este é um resquício dos meados do século XX, época em que o petróleo jorrava fácil nos quintais americanos e que pensava-se serem os recursos naturais inesgotáveis. É também dessa época a crença de que tudo se justificava em nome do progresso, como se este fosse
destinado a entes que viviam em outra galaxia. Porém, não podemos persistir nesta visão automobilística quando adentramos o século XXI. A realidade se descortinou mais cedo do que alguns mais otimistas pensavam. Com a descoberta das limitações do planeta, também veio a constatação de que é preciso pensar e agir diferente sob pena de não sobrevivência da humanidade inteira. A cidadania ganha força e as pessoas simples querem ser sujeitos da própria história. Ganha força a idéia na qual é possível construir-se um mundo melhor a partir das iniciativas locais, dos pequenos exemplos, das mudanças de atitude de cada um.
Neste contexto abordemos aqui uma preocupação que bole com a nossa mente, apesar de infelizmente ainda não aparecer como um problema aos olhos mais tradicionais dos planejadores das cidades.
Os passeios públicos de pedestres (calçadas) pouco a pouco foram sendo desumanizados e transformados em avenidas, ruas, estacionamentos, tudo tendo como centro o automóvel. Iguatu seguiu este modelo, mesmo porque não poderia ser diferente, visto que permanece ainda a visão de que carros e asfaltos é sinônimo de desenvolvimento.
As calçadas de nossa cidade se desumanizaram. Nos finais dos anos 40 do século passado, quando o automóvel ainda estava dando suas primeiras buzinadas, trancos e trombadas em nossas ruas, passou por aqui um certo prefeito chamado Dr. Gouveia, que instituíu o primeiro código de obras e posturas do nosso município. Aquilo era uma obra futurística! Instituía, por incrível que possa parecer, determinações detalhadas de como deveriam ser construídas as calçadas destinadas aos pedestres. Estas deviam ser niveladas umas às outras obedecendo ao meio fio padronizado em todas as ruas. Os proprietários dos imóveis, residenciais ou comerciais eram obrigados a manter as suas calçadas limpas e desobstruídas de qualquer empecilho. O código dizia textualmente que era obrigação dos munícipes manter a frente de seus imóveis limpa.
Recentemente, um certo prefeito de Paris (pleno século 21, pasmem!) adotou esta política e teve como resultado um sucesso extraordinário na limpeza dos subúrbios da capital da luz. Virou referência positiva em muitas outras cidades mundo afora.
Aqui cabe perguntar:
Teria o Dr. Gouveia nascido no século e local equivocado?
Teriam nossos amados mestres, professores das escolas de Iguatu, esquecido de ensinar um pouco da história do nosso município aos pupilos que hoje são políticos e urbanistas em nossa terra querida?
Ou seria uma amnésia geral que se abateu sobre as lideranças locais no que tange à guarda e valorizaão do aprendizado com a nossa história?
Sofreriam os municípes de uma certa hipermetropia
Ou é uma miopia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Miopia que os impede de ver um pouco além, de enxergar o direito do outro ir e vir, de perceber os sinais na qualidade de vida das pessoas comuns, que definem desenvolvimento melhor que atropelamentos por automóveis e outros acidentes?
Urge, repensarmos que cidade queremos. Urge definirmos valores mais humanos para medirmos o desenvolvimento desta cidade querida. É necessário cultivarmos a idéia de que é agradável e satisfatório vermos pessoas caminhando pelas calçadas em frente às nossas casas enquanto crianças correm e brincam sem arriscarem a vida por conta de batentes estúpidos. E o que dizer dos idosos? Estarão eles condenados ao confinamento no interior das residências por conta d não haver uma via onde possam caminhar?
Pensem amigos e amigas e dêem alguma resposta sobre estas indagações. Alguns dizem que quando um cara de meia idade se ocupa com satisfaçoes infantis juntando-as com memórias do passado, não tem mais juízo. Estaria eu caducando?
Abraços,
Paulo Maciel