410 a 63 foi o placar da câmara dos deputados onde foi aprovado o Projeto-lei que extingue o Código Forestal Brasileiro, propondo em seu lugar uma lei que retrocede em pelo menos meio século a questão ambiental brasileira. Esta aprovação, após algumas prorrogações, no útimo minuto do jogo, se deu pela articulação de deputados de vários partidos, inclusive da base governista (PMDB, PTB, PDT,PCdo B...), capitaneados pelo ponta "esquerda" Aldo Rebelo, mesmo com indicações em contrário, por parte do partido da presidenta (PT).
Na defesa do Código Florestal vigente, atuaram além de inúmeras ONGs ambientalistas, organizações sociais, sociedade civil e parlamentares do PV e PSOL, PT e outros partidos compondo a Frente Ambientalista.
Para um país onde tudo termina em placar como se fosse um jogo de futebol, nada fora do normal. Quem venceu? Quem perdeu?
Perderam as futuras gerações, perderam as crianças de hoje, perderam as populações que dependem da floresta para sobreviverem, perderam os segmentos lúcidos da população brasileira de hoje. Perderam a vida José Claúdio e Maria do Espirito Santo. Perdeu a biodiversidade.
Quem venceu? Os segmentos mais retrógrados da nossa sociedade. Interesseiros imediatistas, exploradores de rapina das nossas florestas e o agronegócio "marrom" que souberam articular seus interesses privados e imediatistas em detrimento dos interesses coletivos, com deputados que não consultaram nem ouviram a voz de quem pode expressar sua opinião a respeito do assunto.
No dia fatidico da decisão, logo de manhã, perdeu a vida o casal de extrativistas que tombaram após terem anunciado suas mortes desde novembro passado. Aliás, anunciar a própria morte também tem se tornado coisa corriqueira no meio daqueles que ousam lutar em defesa das causas ambientais, particularmente na região norte do Brasil (Chico Mendes, Dorothy....).
José Cláudio Ribeiro da Silva e de sua companheira, Maria do Espírito Santo, não viveram para chorar este triste placar e muito menos para continuar na luta. José Cláudio era presidente do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e foi assassinado nesta terça-feira, junto com Maria, em uma emboscada no município de Nova Ipixuna (PA), a cerca de cem quilômetros de Marabá (PA). A encomenda de sua morte, justo num dia de votação do Projeto-lei que derrota o Código Florestal não seria um indício de que os mandantes mandavam um recado?
O casal participava do projeto de assentamento agroextrativista Praialta-Piranheira, criado na região em 1997 e que trabalhava principalmente com produtores de castanha. José Claudio vinha denunciando há muito tempo a sanha dos madeireiros na floresta amazônica mas eles continuavam sem proteção do Estado. Este projeto promovia junto às populações locais um desenvolvimento de novo tipo sem destruir o meio ambiente e preservando a vida.
Na mesma noite do dia em que foram mortos, o mesmo Estado, passa um atestado de legalidade para a ação daqueles que foram combatidos heroicamente por Jose Claudio e Maria do Espírito Santo, através da aprovação do Projeto-lei que derrubou o Código Florestal Brasileiro pelos deputados federais brasileiros.
Fica assim concluído este capitulo triste para os que defendem um desenvolvimento sustentável para o país. Agora vêm os desdobramentos. Os segmentos que acreditavam na aprovação deste projeto, já se anteciparam pondo por terra muitas florestas mesmo antes da aprovação do projeto. Por outro lado, continua a luta daqueles que defendem a floresta integrada ao modelo de desenvolvimento sustentável. A memória dos que tombaram será preservada. Os correntões do atraso serão quebrados e um dia poderemos gritar gollllllll!
Paulo Maciel